domingo, 24 de junho de 2012

[Amor em tempo de redes sociais] Capítulo 5 – A traição



Imagem: Stephen Wright
Houve um tempo em que a felicidade era tão repetida, que precisava de tristeza para estar alegre. Flor se sentiu repleta demais, com aquela fofura toda. Estavam casal. E aquilo era tão brega quanto as frases que diziam um ao outro. Ela perdera, até mesmo, o mistério de esconder-lhe o necessário. No fundo, sentia que o amor apitava e dizia que era dúvida, sempre. Diálogos e dias repetidos, profundezas superficiais. Tal qual em paraíso monótono, ela se escondia naquela barba mal feita, em longos respiros. Nem sequer tinham tempos ou saudades.

E como que atendendo ao pedido, que seu inconsciente talvez fizesse, o travesso destino deu-lhe dor. Em dia-rotina, plena terça-feira, foi-lhe o coração acerta-lhe a mente com presságios. A música que falava de lealdade açoitava-lhe os ouvidos. Uma tristeza de futura causa a assolou.

Golpe de voadora, um sms falou o que o peito já sentira mais cedo, mas o sentimento inacreditava. Outra mulher, que não ela, tinha sido dele. Sim, e a avisara por mensagem de texto, um jeito frio e macabro de fazer o seu corpo tremer. A conversa entre as duas caminhou. Sem trocas de farpas, pois Flor pediu-lhe dignidade. O conflito surgiu, a verdade apertou seu semblante.

Verdes colheram verdades. A confissão veio em entrelinhas. Aquele rapaz, com quem se fazia inteira, agora arrancara-lhe um pedaço. Um dia, e a noite foi longa. Por um instante, pensou que sentimentos ruins habitavam a barriga, e, não o peito. Teve aquela garra que aperta o estômago, esmagando qualquer sentir, afligindo-a. Lembrou de coisas, decidiu-se. Resolveu dar-lhe uma chance, por motivos que nunca imaginou ter.

- A vergonha é sua, mas eu te amo.
- O que isso quer dizer?
- Que podemos tentar.
- Mas você quer mesmo?
- Sim, você não quer?

Silêncio na linha. Ela enraiveceu-se.

- Hein? Responde.
- Estou confuso...
- Você? Você está confuso? Ah! Bom, acho que o melhor é deixarmos por aqui.

O silêncio seguiu o desligar. Ali, ela naturalizou a ideia de estar solteira, de sentir-se livre para amar quem quisesse. Quase ficou feliz. Foi quando o telefone tocou, novamente. Ele soltou:

- Meu amor é seu, mas ainda não é o que pretendo sentir.
- Hum...
- Mas eu te amo, amo como nunca antes...
- Eu só queria entender o porquê. Queria sexo? Queria uma coisinha diferente? O que era?
- Com ela, eu não poderia te explicar, você não entenderia.
- Só quero uma explicação, nem que ela não explique...
- Não foi como com você. Eu a humilhei...

Os detalhes a abalaram. As coisas ficavam, cada vez, piores. Ele a assustou. Como poderia aquilo? E como ela, ainda, sentia uma vontade enorme de perdão?

- Me perdoe, meu amor. Não consigo viver sem você.

A voz dele estava diferente. Interna.

- Ok. Mas entenda, quando os erros se repetem, o perdão fica cansado.
- Te juro, que tentarei ser melhor do que sempre fui para você.
- Sua alma é livre e solitária, eu sei. Vejamos no que dá.
- Você me faz muito feliz, mas não mude comigo, por favor. Porque o carinho que tenho por ti é, naturalmente, reflexo do teu amor, do jeito que me olha, que sorri, que me toca. Por favor, continue você.

- Eu acho que um dia você vai sumir da minha vida, como quem foi comprar cigarro...

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