quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Queria ver meu gato bêbado



Sempre tirânico, me olha assim displicente e ágil. Gemido irritante, rosna carinhoso, pede abrigo no colchão. A noite pinta seus olhos de um preto mais cheio, mais belo. Dá ares de ternura. Arranha o sofá, como quem diz ter preguiça de viver. Como quem lembra de um passado egípcio de glória. Como quem sabe do poder que um dia pôde ter tido.

Sempre olha ternamente, pedinte. De comida, de água, de carinho, aconchego. E é todo formoso, elegante. Mesmo na indolência mantém uma dignidade aristocrática. Esnobe. De dia, o olhar é frio, de um preto riscado no azul celeste emoldurado no pêlo curto e branco. Maciez. Se estende no tapete até que sua companheira preta, linda, Tulipa, o venha incomodar. Inflada de birras, olhos saltitantes, linguona pra fora, morde o rabo indeciso do bichano lânguido. São opostos que se impelem em disputa dicotômica.

Preto, branco. Excesso, comedição. Alegria, classe. Minha cachorra, meu gato. Mesmo, quando eles correm um atrás do outro, de tamanhos pares, rumo ao nada, me apetecem. É só ai, que a altivez felina se quebra. Tem de fugir da cadela, linda, fofa, feliz. Tem de sair da posição impelida, queixo erguido, patas juntas, corpo simétrico e se jogar no jogo gato-cão. E mesmo depois, não aparenta cansaço. Língua guardada, músculos ao comando, olhar penetrante ou molenga. Queria ver meu gato bêbado. Talvez ele parecesse mais feliz. Mas quem sou eu pra tentar entender felicidade de gato.

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