domingo, 5 de junho de 2011

Solidões indignas


Sentada num tronco, observava. Céu e mar fundiam-se num negror espesso, convidativo, amedrontador. Uma nuvem rasa e profunda, redonda, translúcida, se misturava ora ou outra com a fumaça que vagarosamente ela expelia pela boca trêmula. Pingavam do céu dois grupos íntimos de pontos luminosos. Pensou de quando oferecera estrelas de felicidade e recebera indiferença. Resolveu amar as estrelinhas. A vista turva já não conseguia distingui-las. Lindas, lá em cima, brilhinhos faiscantes, soltavam beijocas pra ela. E ficou. Outra luz movimentou-se no alto. Numa velocidade que chegou aos seus ouvidos. Lembrou de como podia naquela hora tão mística vir os resquícios de sua época atrapalhar a paisagem que vivia, efêmera. Transformou aquela modernidade em parte de tudo e curtiu. O vento frio soprou nuns ouvidos sonolentos canções embluesadas, gostosas. Ondas vinham branquinhas. Competiam, umas com as outras, batiam-se, desmanchavam-se manhosas e morriam. Era uma solidão acompanhada. Alguém via seu perfil na noite. Olhou, não era ninguém. Tragou uma última vez e apagou a pontinha na areia que nem sequer estava molhada. Só fria.

Abraçou-se a si mesma e enovelou-se nas vistas que tinha. Teve medo daquele momento. Era belo e era forte. Solidões de praia em festas não eram dignas. Levantou-se e bambeou pelo chão de minúsculas montanhas e vales para seres microscópicos. Se sentiu gigante, estava tonta. Decidiu ir embora. Não sem antes dançar a ciranda.

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