segunda-feira, 4 de abril de 2011

Sem querer...


Sem querer, pisou na impossibilidade. Com aquele pé amarrado na sandália verde. Pediu desculpas e prosseguiu. Queria saber ser má. Talvez até já fosse. Mas queria um pecado completo. Descaracterizou-se ao sair de casa naquele sábado frio e inconstante sem sua flor amarela. Rebocou-se rapidamente, para ter tempo de pensar. Reparou que suas unhas diziam muito de como a vida andava. Todavia, isso deveria acontecer somente com ela, porque a amiga tinha unhas maravilhosas. Saiu pra comprar frescuras.


Na banquinha de jornal, era a única flor entre verdades e mentiras. Olhos-sorriso e um beleza vazia a encaravam trancafiados numa capa de revista. Era a mais nova milionária relâmpago do país. Passou por sua mente o que faria num desses reality shows. Desistiu da ideia. Seria muito oneroso forjar um personagem simplista e comovente, calçado de opressões que pudesse angariar votos alienados. O pensamento deu rabissaca, bateu na parede, e voltou em forma de vento. Injuriado, levantou sua saia. Sem muito que esconder, tratou de comportar sua barra. Seguiu a ladeira.


Na lesadeza de sair por ai flanando, nem era homem e podia fazer isso, olhou pra baixo e viu. Era um biloto preto, com a pontinha reluzente. Agarrou o negócio, e suas mãos curiosas identificaram um pendrive. Arrodeou com o olhar. Nada de dono do bicho. Vou conferir lá em casa se dá pra identificar , pensou. E lá se foi.


Era um bocado de planilhas. Args sucessivos. Imagine a monotonia de se lidar com esse horror de números. Mas aí lembrou do prazer que sentia quando resolvia equações na 4ª série. Desculpou o dono do hardware. Dono. Sim, porque, metodicamente, em uma das planilhas de nome “Em caso de perda deste, abra!”, o rapaz registrou seus dados sistematicamente. Lá se vai Flor usar seus sms’s do dia. Agora era esperar.


Num é que com dez minutos, o danado do telefone vibra loucamente ao som da Janis Joplin. “Agradeço sinceramente pelo contato. Qual sua disponibilidade de tempo para a devolução?”. Acabou de ler na mensagem de texto. Arre égua! Tinha que pensar. Retornou a cartinha eletrônica com data, horário e local. – Será que ele é bonito? Deve ser um nerdão. Até se animou.

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