segunda-feira, 18 de abril de 2011

Diálogo com Drummond


E por não esquecer de conselhos lidos é que me debruço nesse pecado. “Não grites, não suspires, não te mates: escreve”, me disse Drummond numa tarde quente e úmida, téte-á-téte, no meu computador. Em momentos de crise, a ordem parece ser a necessidade que impulsiona. “... alongai meu sentimento”, continuou-me a falar, em outro poema.

Pois teríamos um caso se contemporâneos fôssemos. Certamente, um caso de cartas. Mas ainda posso o amar através de seus versos. “O que eu escrevi não conta. O que desejei é tudo”. E me expressa em letras de quase um século. Previa futuros, versões, sentimentos.


Posto que meu primeiro namorado foi mineiro, não vou me estender em coincidências. “Retomai minhas palavras, meus bens, minha inquietação”. Posso tentar, lhe coloquei. E devo acrescentar que entendi a mensagem. Que a palavra não é fim, e que não morre em si mesma. “Cantai esse verso puro”, anunciou ele para que pudéssemos propalar não sua obra, mas as letras, o argumentar, o sentir em cada ponto, vírgula, cisma ou preposição.


Aos oito anos, sem que ele tomasse conhecimento, me enchi de amores por esse Carlos. Descobri a rosa que perfura o asfalto e também perfurou o meu tédio infantil. Comecei a catar pelos livros um tear de enredos daquele homem cujo sobrenome impressionava uma criança pelos dois emes.


Por tempos esqueci do prazer que me proporcionava antes de deitar. Me diverti com outros, também modernistas como ele. Sabino, Clarice, Scliar, Bandeira, Cecília, Raquel... Promiscuidade literária. Me voltei ao Carlos pela flor. A Rosa do Povo. E descobri num verso seu a pouco menos de um ano, verdades absolutas engendradas, decompus. “Para beber é preciso amar”.


“Muitas palavras nem precisam ser ditas”, me condenou outro dia. É que de fato ainda não alcancei um tempo literário satisfatório, bagagem subjetiva em plenitude e relevo amoroso etílico suficiente. Só sei que ainda me pego a pensar e me achar nas suas linhas_momentos. Relendo, acrescentando, redundando, perdendo, escalando. Tusso agora poeira de guardados. Antes agora do que nunca.

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