terça-feira, 16 de novembro de 2010

Deleite nas rinhas caninas


Mas gostava. E nesses pedaços da vida, feito boleros, lá ia respondendo precisamente “quiçás, quiçás, quiçás...”. Deleitou-se nas rinhas caninas das idéias de ir-e-vir. Dar-se-ia melhor naquela companhia. Reflexão. Seus Sis multiplicavam-se. Retardou o crescimento do seu ego por uns instantes. Verter-se-ia em sorrisos naquela dobra de rua acidental-provocada. Tinha tomado aquela decisão de barquinho, quando se navega por plácidas correntes psíquicas. Era só se preparar para o barulho das ondas. Nauseou-se. Sentia-se bem, formigada por uma segurança quase uterina.

O bicho de pelúcia, abandonado naquela fofura piedosa, tinha necessidade de carinho. Viesse ele ou não, ficava ele lá, com a cara de satisfação estampada sempre. Tedioso. Quem produzia a precisão de afetinhos era ela. Que sempre o esquecera por travesseiros poeirentos. Criança que reproduzia ludicamente o conforto de outrora. Seu, não do ursinho. Ela deu passos pequenos. Usava salto. Cuidados. Ela tinha precisão de afetinhos. Quem produzia a necessidade de afetinhos? Ela, não o ursinho. Ousou controlar-se com sua liberdade. Podia optar por qualquer um. Ou até por nenhum. E ficaria bem por isso. Descomprometidamente bem por isso. Compromissos próprios. Podia brincar com seus próprios brinquedos. Afundar-se nas suas generalidades. Pois que era tão artífice de si, de seus próprios contextos. Vulnerabilidades insanas a assolaram.

Voltou ao quarto e agarrou o exemplar de um passado prodigiosamente esfaqueado. Ternamente prostrou-se junto a ele, encolhendo-se e parecendo querer esganá-lo ternamente. Queria tirar-lhe a vida. Frustrou-se. Invejou-o por ser inanimado e feliz. Bobo e cortez. Lembrou, esqueceu. Dormiu.



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