terça-feira, 30 de novembro de 2010

Capitulo 2 - E no princípio era assim...


Eu não precisava contar as semanas assim, como se elas fossem dedos, gargarejou a moça entre os soluços pulsantes e disfarçados. E foi-se. Desde que me apeteci dele, as coisas se tornaram assim difíceis. Já disse-lhe. E desmenti-me em sorrisos com seu não nervoso, quase um sim. E por que era tão besta? Bobo. Grande xuxu bobo.

Ai, e mais porquês para aqueles olhos castanhos nublados, gostosos, daquele sorriso farto. Me mata. Esguio, tão besta. Ri-se de tudo, num fundamentalismo patético e adorável. E resolve elogiar-me sem que assim o pareça. Pior, quase me ofende. “Faz isso pra eu dizer que as mãos delas são macias”, condena-me. Não é pecado amar. Por que ele acha isso? Diferenças. Muitas, assustadoras.

E fico com medo dessa castidade confirmada. Não gosto de inverter papéis estereotipados. Me dizem que sim. Ele que não. E as baladas me fazem esquecer de lembrar. Mas por outros fico pensando nele. Bobo. Não quero inovar histórias repetidas, de lapidação, ensinamentos, maternidade. Suas conversas profundas me dão a letargia pura e promíscua de um futuro casal. Dúvidas.

E as análises solitárias são quase teológicas. Escárnios. Acho que amo. Acho. Como lhe disse, se pudesse escolher, de fato, a ele me voltaria. Me reconforto com lembrancinhas, olhos, sorriso, jeito. Acho que amo. Acho...

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Capitulo 1 - E no princípio era assim...


Arriscou-se por meios virtuais:

- ¬ ¬

Ele, incógnita, desmedido:

- e tu já tá por aqui?

E porque era ainda cedo para ela já estar no trabalho. Então ele conhecia seus horários. Boba, não continha seus excessos, coquetismos desnecessários:

- e tu que ficou ocupado no exato momento em que eu entrei

psico

Doce, sempre inocente ele era assim:

- foi mal, nem percebi, só na defensiva né?

Dava vontade de sussurrar no ouvido dela um mantra de auto-controle, enfiou:

- ahã Cláudia, claro, desisti do ataque

bandeira perdida beibe

eh bandeira aceita

E como se esperasse algo de um fio, coisa verde, esperança em uma palavra, ironia que fosse, desiludiu-se com o:

- sinto

E aquele sinto rasgou-lhe. Era frio, embora não sentisse que fosse verdadeiro, mas era. Numa convulsão idiota soltou:

- kkkkkk

E desviou:

- ei

posso te entrevistar?

Ele, curioso:

- pra quê?

Ela explicou e largou as perguntas, que não revelo aqui, pois são demasiado técnicas, reveladoras. E no meio de uma delas, ele soltou um site como resposta. Ela perguntava. Era jornalista e precisava de declarações, discurso direto, etc... O link mandado foi o suficiente para irritá-la:

- não quero site

o meu negócio eh com vc

Depois de um errinho digitatório:

- hum

manda então

Ela continuou com o profissionalismo, fingindo-o de fonte. Não consegue manter por muito tempo, Dá uma olhada no site e humilha:

- kkkkkkkk

vcs fazem o site do ceará

#morri

Ele apenas diz:

- my lord!

Mais uma vez, ela repete-se não só naquela convulsão de letras...:

- kkkkkkkkkkkkkkk

Ele:

- vamos lá, pensemos

fizemos

Ela poderia ter ficado calada e sucumbido ao conformismo. Mas não seria ela:

- quer uma massagem pra pensar melhor?

Tudo bem. Momento ameba má que dá foras em moças apaixonadas:

- sabe alguma virtual?

Ela fica lá, olhando a janelinha e parece esquecer de tudo vendo as ações dele e se entrega, contando que está vendo:

- escreve... para... pensa... repensa... escreve... enter

legal

amanhã eu te dou

mas não me atrapalhe

Pouco mais de um minuto e meio, ela continua:

- vamos responda logo

kkkkkkkkkkkk

Nem um só comentário. O eu dela fraquejava diante das atitudes. Realmente não a queria. Não estava acostumada com isso. Talvez isso a impulsionasse. Birras. Ele responde:

- bom, eu acreditava que... blá blá blé...

Ela:

- hum...

Ele continua:

- nem cogitava trabalhar ... blá blá blé...

quê mais

?

A entrevista prossegue, com um ou outro “anjinho”... E ele vai pro lado:

- ei, o professor gostou do meu texto

hehe

Ela, querendo ignorar:

- parabéns

2 estrelinhas do PT pra vc

Mas não se contém:

- brincando amore

Ele vem com:

- :D

Ela imagina o de verdade, lindo, bom, queria ter um só pra ela:

- me manda preu ler

Ela fica feliz com o que se segue. Ele parece achá-la meio tirana, num misto de respeito e receio:

- \o/

eu não, senão tu vai acabar com ele

Espanta-se:

- valha

teh parece

pra gatinho eu dou um desconto...

Ela fecha, tem trabalho a fazer. Prioriza. Ele não é tão importante. Ainda.


terça-feira, 16 de novembro de 2010

Deleite nas rinhas caninas


Mas gostava. E nesses pedaços da vida, feito boleros, lá ia respondendo precisamente “quiçás, quiçás, quiçás...”. Deleitou-se nas rinhas caninas das idéias de ir-e-vir. Dar-se-ia melhor naquela companhia. Reflexão. Seus Sis multiplicavam-se. Retardou o crescimento do seu ego por uns instantes. Verter-se-ia em sorrisos naquela dobra de rua acidental-provocada. Tinha tomado aquela decisão de barquinho, quando se navega por plácidas correntes psíquicas. Era só se preparar para o barulho das ondas. Nauseou-se. Sentia-se bem, formigada por uma segurança quase uterina.

O bicho de pelúcia, abandonado naquela fofura piedosa, tinha necessidade de carinho. Viesse ele ou não, ficava ele lá, com a cara de satisfação estampada sempre. Tedioso. Quem produzia a precisão de afetinhos era ela. Que sempre o esquecera por travesseiros poeirentos. Criança que reproduzia ludicamente o conforto de outrora. Seu, não do ursinho. Ela deu passos pequenos. Usava salto. Cuidados. Ela tinha precisão de afetinhos. Quem produzia a necessidade de afetinhos? Ela, não o ursinho. Ousou controlar-se com sua liberdade. Podia optar por qualquer um. Ou até por nenhum. E ficaria bem por isso. Descomprometidamente bem por isso. Compromissos próprios. Podia brincar com seus próprios brinquedos. Afundar-se nas suas generalidades. Pois que era tão artífice de si, de seus próprios contextos. Vulnerabilidades insanas a assolaram.

Voltou ao quarto e agarrou o exemplar de um passado prodigiosamente esfaqueado. Ternamente prostrou-se junto a ele, encolhendo-se e parecendo querer esganá-lo ternamente. Queria tirar-lhe a vida. Frustrou-se. Invejou-o por ser inanimado e feliz. Bobo e cortez. Lembrou, esqueceu. Dormiu.



quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Perdas e Ganhos

E vem sempre os porquês. E depois passa. E é assim mesmo. E estrangula as veias. E logo elas vão se soltando. Então, estado. Despótico de Direito do Eu. Egocentrismos naturalizados. Roubam-te a vida do teu cachorro, roubam-te o celular na parada de ônibus, roubam-te o tempo, roubam-te os amores que não mais cultivavas. Assumir apenas tua parcela de culpa. Perder. Ganhar. É essa mania de guerra interna dentro de ti, dentro de tuas relações, dentro dos mundos que te explodem. Jihah interior. Não quero retomar discussões de escritoras monótonas. Não objetivo opiniões descritivas impositivas. Não tenho pormenores filosóficos complexos. De vivências estreitas e pensadas em longos prazos é que se constroem minhas linhas. Rasas, diria.


E foi pela foto achada que me motivei sobre o teclado. Lembranças sádicas, sadias. Foi naquele dia em que trouxe a pedra de brilhinhos múltiplos, irrelevantes. Até pus data, como se fosse presente. Roubei a pedra de um chão burguês de frente de hotel. Decoração elitista e brega. Mas lá estava ela, igualzinha a todas as outras. Aleatoriamente a escolhi. Um grupo de amigos passeando pela beira do mar, calçadão. Fraternalidades. Brincadeiras, pulinhos, queriam nos arrancar de todo nosso amor demonstrado. O casal perfeito, intitulavam. Grande farsa que nem sei se por aqueles dias me era verdade. As pessoas sempre se incomodam com isso. Inveja, talvez. Ou apenas pelo constrangimento da hora.


De turquesa, já pretendia misturar-me àquele mar de sustos. Tal qual a cor que me era refletida, suspirava olhares alegres de uma tristeza insuficientemente forasteira. Naquela época, nada me tinham tirado. Nada eu tinha perdido. Nada eu tinha deixado roubarem. A solidão por aqueles tempos era acompanhada. Bizarramente. Nos momentos perfeitos solidificados, uma agonia apossava-me de mim. Uma dor de cabeça misturada às náuseas ao olhá-lo. Fugia e regressava do corpo em questão de milésimos. Nunca comentei com ninguém. Mas agora lembro.


Estranho como a felicidade pode ter tais efeitos colaterais. Pensei no início que podia ser a pizza, ou o excesso de trabalho. Mas não. Independente da comida ou do feriado, do lugar ou da roupa usada. Era sempre num daqueles instantes, onde a satisfação completa demais sufocava. Não faltar nada também é aterrador. Agora paro e penso, ao me ver ali pensando. Já não era feliz com toda a segurança que tinha. O fingir que ama é tão enganador que engana até a ti próprio. Pois só pude ver hoje, o quão é mais confortável a liberdade da escolha sozinha. O compartilhamento excessivo, o não dissociar-se do outro, a entrega total... Nocivos. Suicídio do eu, simultaneamente, consciente e inconsciente.


Olho para a mesinha de futilidades que cultivo, cremes, bijus, porta-jóias, e não vejo mais a pedrinha branca. Se perdeu em algum final de faxina. Como tudo, se foi. E aquele lugar comum. Passar. Perder. É ganho. Espaço adquirido para o novo. O sapinho, que gaiatamente é cofre, me olha, sentado e teso por ser gesso. Não ponho moedinhas nele há uns meses. Acúmulo. Mal da humanidade. Libertei-me dessas coisas. E não mais me sufoco pela perfeição de já ter tudo e ter que, a partir daí, somente juntar. Os pequenos vazios agora me completam e me estimulam. Buscar.


sábado, 6 de novembro de 2010

PARTE II - Concentrou...


O apartamento era pequeno e convidativo. Reservado, blasé, com baguncinhas normais de homem. Ela sentiu falta do negror que ele imprimia e do colorido dos seus discursos. Embora no carro as amenidades tenham se transformado em discussões férreas, o silêncio postou-se desde que o motor fora desligado. Elevador, corredor, nenhuma pressa. Entraram. Senta. Estava tudo desordenadamente no lugar. Velharias de antiquário brigavam com uns designs pós-moderninhos. Talvez disputando méritos. Quem copiou de quem. Releituras e profecias. Suas idéias foram decapitadas pela voz rouca de um jazz que ela conhecia bem. A voz esvaia-se do notebook na mesinha com toalha de couro. Ela adorava couro. Esses pseudo-intelectuais... Logo, a bebida. Nada forte. Ela estava cansada, lembrou.


Me dá um pouquinho d’água anjo. Vou buscar. E ela necessitava conhecer sua cozinha. Ele virou-se e simulou um susto ao vê-la escorada na geladeira. Toma. Quer chocolate? Eu sabia que você não traria a sobremesa. Por isso comprei. Não era uma cantada fail querida, era sério. Minha hipoglicemia pede maiores doses de açúcar. Me deixaria sucumbir na cozinha de casa? A vermelhidão que aflorava o seu blush não foi pelo chocolate que ele não sugeriu pegar na boca dela. A umidade nas mãos não foi pelo agarro de supetão que ele não deu. A disritmia foi um composto pela bebida que ela não provou. Queria borbulhar. Bebeu a água.


Já que estamos aqui, vou esquentar o de comer. Não, não vou entrar no microondas, segurou para não parecer imbecil. Se é que isso era possível. A pessoa recusa a vodka, esquece a sobremesa, e ainda se chama de marmita <>. Ficou lá contemplando a barba dele que parecia crescer naquela hora. Queria que aqueles fiapinhos furassem logo seus lábios, pescoço. Bebeu mais um gole d’água. E ele lá, falando. Tentava prestar atenção, no entanto aquelas veias salientes no braço peludo faziam caminhos denotativos, aéreos, pulsavam, gritavam, chamavam-na. E tudo isso enquanto ele mexia macarrão na panela.


Ele repetiu mais de duas vezes o nome dela. Denúncia exata da falta de atenção. É, você deve estar cansada mesmo. Não,não, é que sou assim lesada, distraída. Tá com fome? Você não disse que ia comprar a comida? Não conte a ninguém gatinha, não quero ser torturado para que abra um restaurante à milanesa. Ela não conseguiu segurar o sorriso. Tá com um cheiro bom. E realmente ela estava quase dopada naquela áurea feliz. Nem sabia se por sua barriga que estava a roncar clamando por aquele <> ou se por ela própria, suplicando aquela boca. Outro gole d’água.


A água parecia não estar resfriando-a. Estigmatizou-se. Quando deu por si, a mesa posta. Meu filho, você é prendado hein? Já disse pra você não falar meus segredos tão alto princesa. As paredes têm ouvido. O vinho ficou pra depois, o negócio mais prazeroso pra ambos foi sorver aquele líquido negro e borbulhante que adoça as vivências dominicais das famílias felizes. E patrocina as copas mundiais de futebol. E o placar subiu pra ele. Nada de coca light. Era uma mensagem de amor sublime. A forma mais maravilhosa de dizer que ela não estava gorda. Era um <>...


Na sala, o <> que ele aprontara estava matando-a. Mas, não mais do que o roçar dos lábios grossos e macios sincronizados, com as mãos de mesmos adjetivos, que espremiam seu pescoço e ombros, respectivamente, aleatoriamente. E que juntos, aparceirados logo desabrigaram os botões do vestido. Relaxada fora por carícias incestuosas, ditadoras, revolucionárias.


E depois o cigarro, que ela sentiu estúpida vontade de fumar. Preferia o recosto no braço duro, firme, ao travesseiro macio, brando. E refletia. E ele a beijava compulsivamente mesmo no pós. Por que você tem olhos de gata. E ela mordeu o queixo quadrado. E recomeçaram. E podiam terminar a seguir. Mas para quê terminariam? Subverteram a ordem do amor, reproduziram os momentos imagéticos, concretizaram cenas lúcidas desenhadas. Estranharam-se, experimentaram-se, numa brincadeira só deles, venenosa, ácida, doce. E a cama virou mapa, e os braços desterritorializaram-se. E a música havia parado, mas não dentro deles. E era extra, e era festa, por que era sexta. Por um momento ela temeu que pudesse acabar. Lembrou que isso era fato e esqueceu. Continuou.