quarta-feira, 6 de outubro de 2010

E por vaivéns alucinantes


Desceu do carro. Era avistada de longe. Podia. Possuída pelo escarlate, parecia emanar ferormônio. Era natural. Achava aquele ambiente tão frio. Mas era para isso que estava ali. Algo podia esquentar. Ela e o lugar. Ouviu os passos rápidos, como só ele podia dar. O encontro estava forjado. Era só esperar. Montada no scarpin preto, salto fino, 12 cm, esperou. Já batia um vento gélido. O suficiente para dar contornos diferentes aos bicos dos seios. Não gostava de nada que lhe prendesse. Fossem deveres, valores, sountiens. Existiam exceções, obviamente. Mãos fortes em seus cabelos com apertos firmes, era uma delas. Excitava-se só com a idéia de vê-lo, quiçá com as demais variáveis.

Os passos apressaram-se e trouxeram um olhar assim desconfiado que esbarrou nas curvas dos quadris dela. Que sentiu os olhos queimando suas costas inteiras e virou-se. Caminhou até ele, e sem dizer nada, vendou seus olhos com o lenço, cetim de oncinha importado, que tirou da bolsa turquesa. Deixando-se levar, caminharam alguns momentos. Ele percebeu que entraram no carro. Ela tirou-lhe a venda e a camisa. Subiu nele.

A língua percorria caminhos, que ele não sabia o porquê, eram tão quentes. Escalou o pescoço, o peito, em movimentos fulgurantes, geométricos. Parava. Já acometido daquele processo masculino natural, segurou-a contra si, com a mesma rigidez de seu membro. E ela continuou até encontrá-lo. Apoderou-se como criança faminta, que brinca em vaivéns alucinantes.

Entorpecido, rasgou-lhe o vestido. Agora ela não pertencia mais a si própria. Era somente das mãos dele. E as mãos, senhoras de tudo, tomaram o poder. Dos bicos, da cintura, das coxas, escorrendo, correndo, puxando. Até entrar. Fez do corpo dela a morada do dedo, que indeciso, entrava e saia, arrancando-lhe os famosos lânguidos gemidos.

As bocas brigavam, machucando os lábios de tanto desejo. Lambuzavam-se na saliva do outro. Era uma batucada ritmada por suspiros secos, sussurros espessos, batidas de coração em desespero. Não conseguiam achar o que pareciam ter perdido no corpo do outro. O banco já reclinado do carro vertia-se escandalosamente naquela aflição. Até que ele, em descontrole, se pôs sobre ela. Plantou-se nela. E dançaram... Ela ao som de um maracatu mental, num rebolado regrado, comprimindo-se por paradas e acochos, de um lado a outro, de trás pra frente. Ele, num xaxado sem-vergonha. Conduzia, se deixava levar, arranhado pelas unhas encravadas nas suas costas, lhe arrancando terríveis dores de prazer. Sentia. Forte, suor, vibrações, beijos cada vez mais profundos. Queriam alcançar o céu, o interno, a alma. E simultaneamente lá iam os seios delas suplicar mordidas afuniladoras, lambidas redondas, chupadas macias.

E foi a boca passear por suas montanhas, até chegar no contorno central. E abrir novos lábios e explorar com retidão, sem aberturas para erros, com aberturas pras mãos. Já enlouquecida, dominou-se pela lamentação extrema e orgásmica. Percebendo, ele, foi lá e fez. E por acaso ou pelo ocaso misturaram-se abstrações, o sólido se desfez em líquidos. Permaneceram tântricos. Desceram do carro. O luar brega da noite cobriu os corpos nus dos dois. Queriam correr de novo. Ele engatou a marcha, acelerou novamente o carro, e pela estrada deserta, se amaram de novo a 75km por hora. Podia ser mais. Podiam morrer ali. Mas não, ninguém morre de prazer...

Nenhum comentário: