quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Quando me comprei


Quando me comprei, numa esquina dessas iluminadas, a vida estava fria. A transação fechou-se duas quadras à frente, em aparatos, acessórios, coloridos. Tive medo e receio, de querer trocar-me, por defeitos de fábrica. Não seria possível. Desde sempre venerei as liquidações. E ali estava eu, mais uma ponta de estoque. Dado preço justo, sem pechincha, dignidade. Modos mudados, cabelo em enlace, vestido alterado. Os olhos enxergavam mais que o necessário. A hipersensibilidade aliou-se a fotofobia humilhando a luz daquela manhã tão bela e feia, com um par de lentes elegantes, piratas, escuras em dégradé.

Quase me vi num outdoor ao longe, mas a imagem mudou em paralelepípedos, tão certo pisquei lentamente. E ia andando a contemplar a beleza diversa. Vozes hostis explodiam daquelas vitrines libertárias, mundanas, pedintes. Analisei que necessitava de tudo aquilo. Completariam meu ser, preencheriam meu vazio. Pelo menos nas próximas duas ou três horas.
Sacolas e satisfação pesavam mútua e promiscuamente. Defronte a marca esbelta, o manequim se fazia de mim. Criei naquele momento a situação em que a roupa seria adequada. Mas são tantos os dias na vida. Sempre poderia trocar-me.

E os trapos semi-comprados já não mais me iludiam. Desconsiderei o peso que subira e forcei-me às fronteiras dos meus três eus obtidos.
E o salário, já não mais existia. E os três meses adiante se viam do mesmo modo comprometidos. E aquilo não era culpa minha. São as necessidades, o que se pode ser feito? Comprar-me, comprar-me, comprar-me. Satisfarei-me assim que preciso. Sempre foi assim, por que há de mudar? Me dizem que assim o é. Me declamam que compre-me. Me cantam que compre-me. Me insuflam que compre-me. Como eu hei de resistir? Se é simplesmente fácil me entregar. “Fazer compras é um delícia!”, eis a mulher moderna. Que as dívidas fiquem, um dia passarão. Tudo passa. Não é mesmo? Que delícia comprar-me. Ver-me em cores, tatos, futuros boatos. Sentir-me completa por aqueles quinze minutos. Très Chic!!! O cheiro do novo. Nem que morra-me de trabalhar. É para isso a existência de uma mulher. Para que mais poderia ser. Agradar seu homem.

Estar sempre bela. Unhas esmaltadas, pés e mãos. Cabelos perfeitos. Rosto habilmente maquiado. Cílios feito garras. Roupa a cada dia mais propícia, de gerar comentários. Agradar seu homem. Estar sempre bela, etc, etc, etc...
Adoro comprar-me. Me satisfaz. Repetir-me, só em comprar-me. Em esquinas iluminadas. Trés Chic!!! Os pés são fundamentais. A vida é isso, garanto. Estar sempre bela é preciso. é tudo maravilhoso. A vida é uma fantasia. Mulheres lindas, homens galantes. Você não assiste novelas? Basta ligar a televisão para confirmar. E as pessoas em casa se não o são é por que não o querem. Obviamente...

São uns acomodados. Tem tudo a disposição, podem comprar-se também, a qualquer hora, por qualquer preço.
E isso é pura verdade. As melhores marcas são ignobilmente imitadas, estão disponíveis a todos. Todos. Democraticamente. Tente, compre-se. Seja feliz você também. Encha-se de dívidas, elas passam. Há, você já faz isso? Então você já prova de deliciosas pílulas de felicidade. Você não está feliz? Ora bolas, trate-se. Ou melhor, compre-se mais e mais. Você deve estar comprando-se pouco... Tente, compre-se. Seja feliz você também. E enviou o e-mail ao amigo publicitário. Riu-se inteira, por ter escrito aquela bobagem só como pilheria dele.

Cara até culto, que se submetia ao empreguinho ludibriador de massas. Eram assim desde criança. Ele, sempre gostou de gabarolices, inventividade, mentiras propositais. Ela, sempre presa ao real de despropósitos, aos fatos mais sensíveis, aos afetos mais verossímeis. Refletiu. Do jeito que ele era, seria até capaz de usar o texto em uma de suas campanhas, aplicando ai uma falácia de apelo a verdade com recursos irônicos. Teve medo. Correu para o telefone.

sábado, 18 de dezembro de 2010

PARTE I - Batida. Tropicão, de limão, cardíaca


E era como se visse seus pedaços no chão, depois de explodir de alegria. Estava ali, arreganhando um sorriso. Dentes alvos, lábios médios, aurora, amanhecer de felicidade. Lascou um punhado de blush, embora não precisasse, posta que estava naquele estado bêbado. Não, não tinha comprado doces, redbulls, ou mais drogas legais, divertidas, voadoras. O azul-lágrima nas unhas era revoltantemente tentador.

Afinal achara mais uma vez o amor da sua vida. Tudo nele era perfeitamente estimulador. Era uma fruta, um cera, um imã. Boa pegada, conversa de gente das letras, barbinha por fazer – maquinalmente preservada a cada semana -, estilo esporádico, um dia pra cada Chico. Soltadas poéticas, coxas grossas. Panturrilhas. “Meldeus!”, dissera pra confidente que perguntou sobre esse ponto, achado por ela primordial. Masculino. Fato. Estudava nas madrugadas, quando não estavam se amando. Amavam-se nas madrugadas, quando não estavam estudando. Sexo sem nexo. Cabelos jogados. Propositadamente despenteados. Um charme. E aquela unha bem cuidadinha, metrossexual de plástico. Ulálá. Aprovadíssimo.

E tropeçou na rua, desastrada que era. E a pedra no caminho vassourou aqueles pensamentos. Fez-lhe sentir dor. Era muito prazer pra que ela pudesse deter-se naquela topada. Seguiu, sem ver o sangue que a desconcertaria mais a frente. O moço da calçada veio em sua direção. Moça, seu dedão tá sangrando. Não era hemofílica, era dormente mesmo. Estava dopada da noite passada. Oi?.. Seu pé! Valha. Soltou, embora não estivesse ligando muito praquilo. Deixa eu fazer um curativozinho. Não, precisa não. Moça, tô quase me formando, ninguém me dá estágio, e você se recusa a que eu faça um simples curativo em você. Ave, depois disso, não podia recusar. Tá com pressa? Não, tô não, mas... Nem deu tempo, ele puxou levemente o braço dela pro banco na parada de ônibus a três metros. Tirou da maletinha, o esparadrapo e se jogou no labor. Diabéisso, assistência médica express, no meio da rua, sem a gente pedir. Pensou.

E a louca começou a rir. Não, não passa mertiolate não. Vai manchar minha sandália. Psiu! Eu sei o que tô fazendo beibe. E pluft. Ai, tá ardendo. Menina como você reclama. E ele segurou seu pé tão sutilmente, que ela se sentiu acolhida. Reparou na cena em que estava imersa. A louca começou a rir. Do que você está rindo? E os olhos verdes foram de encontro ao dela. Oi? E ele entendeu. Pronto. Que loucura né? Nem me toquei da topada. Vai saber... Agora tá melhor. Você estuda aqui? Não, na faculdade do lado. Ahhh. E faz o quê? Moço meu ônibus tá vindo. Desculpa. E... Ai... Brigadão viu? Até... Brigaaada... E escorregou pra dentro do ônibus que parecia querer vomitá-la de tão satisfeito de gentes que já estava.

Doida. Valha, ela esqueceu o livro e a agenda. Flor. Égua, nome estranho... não, bonito. É. A mãe dela devia ser hippie ou alguma coisa assim. Tipo vegetariana. Bem bonitinha. É. Louquinha, mas bonita. Ei, tem um telefone aqui. Pera, são... hum, ela deve estar vindo da aula. Deve pegar ônibus sempre nesse horário. E pegou aquele ônibus. Amanhã... E saiu cantarolando, altistando numa bateria imaginária. Nossa! e aquele pezinho... Amanhã.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Nojo



O negro da roupa sugava aquilo que ele não queria. Algo como auto-proteção. O cabelo desmanchava-se na testa marcada por rugas rasgadas, precoces, insanas. Furou o ar com a baforada típica do marasmo que se seguiu. Engasgou, o vício era prazeroso e confortante. Ainda era dia e aquilo assustava. Aquilo. Tão forte e fugaz quanto uma luta de verdades. Entrava pelas casas, batia pelos rostos, se destrinchava em cores. Os olhos ardiam só de pensar.


Avançou pelo escritório, pensou em voltar, conteve-se. Teria de ir e encarar, mesmo que pelo caminho de tempo, aquilo. Ajeitou e tirou da camisa esfulepada a armação que lhe amenizava o sofrimento. Quadrada e preta, bem preta, foi sucesso décadas atrás. Sucesso agora também por diminuir a latência do horror provocado pela coisa estúpida e clareadora. Traçou a porta, driblou o corredor e pela janela ela já dava sinais mórbidos de vida. Nauseou-se. Era tocar-lhe mesmo que levemente, para arrepiar o gogó de macho estridentado. Ia aumentando à medida que se aproximava de fora. Era asquerosa. Lembrava de quando criança, como o escuro do quarto era acolhedor. Já vestido dos óculos de sol, levou a mão ao rosto naquele embate com o monstro que lhe afetava tão sonoramente os nervos e a pele.


Agora ela cobria-lhe, e não havia mais nada a fazer. Abraçava-lhe suave e tristemente. Recoberto por ela, ele apressou-se em passos bêbados de um sangue sem álcool, sem cor. A sensação era monótona e cruel. Não comprometia apenas as córneas astigmatas. O formigamento passava para o rosto. Sentiu nojo da luz. Aquele brilho era desconcertante, peçonhento. Naquele dia, especialmente, a percepção era mais firme. Detestava aqueles feixes que acertavam-no. Tiros de caos perfurando a camisa, as vistas, seu orgulho.


Sempre ouvira falar que as pessoas enojavam-se das coisas escuras, feias, omissas. Quase um racismo naturalizado. Com ele era diferente. Bebê, estranho que foi, adormecia com a luz da lâmpada a encará-lo. Era como um desafio, quem poderia adormecer primeiro, ele ou a luz. Ela sempre ganhava. Depois descobriu que a mãe era a culpada por sua derrota diária.


Pela calçada, o corpo estrebuchava internamente, ele suava. Não pelo calor, mas ela claridade. Tão brilhosa, bela, destruidora. Apertava-lhe, roubava-lhe as poucas energias. Não tinha para onde ir naquela hora. Vag[eu]ou. Os pés em pânico, já que descobertos em chinelas de couro traidoras, custavam a levá-lo. Asco sentiu mesmo foi daquela grande ferida repugnante que abocanhava o céu e seus couros. O sol. Emitindo ondas malévolas, consumidoras. A cefaléia parecia crônica e lhe deu mais ojeriza. Sentiu na boca o gosto da luz. Terrível, uma mistura de suor e confirmações de sofrimento.


Tropeçou nos pensamentos de aversão e caiu numa poça de lama. Escura e fria, ela o aqueceu. Dotou o rapaz magro de uma calmaria marítima, uterina. Não quis se levantar. Espalhou-se. Recobriu-se do barro. Era sua armadura contra a luz. A poça tinha um odor que incomodava. Mas não a ele. Parecia dançar por dentro. Já todo vestido de lama, sentiu algo afagar-lhe o cóquis. Ia subindo espinha acima numa carícia de arrepio, uma massagem de patinhas, já identificava. Levou os dedos direitos às costas e agarrou o ser. Trouxe-o a frente. Os olhos arregalados do bicho lhe passaram uma ternura medonha. Estrebuchando entre os dedos magros e compridos do rapaz magro e comprido, o réptil parecia querer fechar os olhos diante da luz que incidia nele. Não conseguia. Compartilharam da mesma aversão. Ele e o calango. Ali sujos de lama. A terra ia perdendo a umidade por culpa do claro solar. Desejou tapar a ferida.


A vida escurecia. Talvez, por seus desejos internos. E aquela bola branca embaçada que ele tanto adorava se apresentou acima dos olhos, seguindo-o. Foi pra casa, pelos becos que já conhecia mais sombrios. Feliz. Pôs o calango no antigo aquário do peixe. Agora tinha um amigo. Questões de afinidade.



segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Corrente...


Não, não é uma questão de memória. Sim, é tudo uma questão de memórias. Simples como um factóide na avalanche informacional. Duro como um fluido influxo de conceitos solidificados, cristos. Tensões subvertentes. Oito.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Capítulo 3- E no príncipio era assim...


E-eu te amo. Pensou. Hoje descobrira de todo. Fora recortar uma foto dele para foto de contato no celular – coisas efêmeras, que não caberiam a literaturas que não passam - e se prendeu ali, com ele se sorrindo. “Quem mandou me olhar assim? Não pude evitar, tirou meu ar, fiquei sem chão, menino bonito, etc, etc, etc...”. O.K. Tava ouvindo Céu demais. Mas à sério, por esses sentimentalismos fajutos que já a permearam ficava confusa. E lá permanecera ela, usando o teclado no lugar de ir dormir e perder o gatinho num sonho.

Nessa fase, que já não sabia mais, ele não queria, e ela sim. Dai a troca de tempos. Efêmeros, verbais, de tecido. E a música a iludia, num presságio do que estava por vir. E sabia que ele não acreditava nessas coisas. Contradição. Homem de pouca fé. Sabia, sabia. Não queria adentrar nesses méritos. Não me diz assim menino, que quer me consolar, que você me mata de vez. Se esvaia. E você que tanto gosta do verde, e das mulheres que o cultivam, por Deus. Destrói de vez essa minha esperança limão. Implorava.

Me diz, de novo e sincero, assim baixinho, que não me queres. Eu passo. Juro. E diz logo preu poder me alumbrar de vez e sofrer lamento profundo de não esquecer-te. Jurou-se a ele. Me fala logo que não sou pra ti, que não és pra mim, e não responde aos meus torpedos. E ela seguia no martírio semi-bélico. Pára com essa guerra que me mina. Amigos fazem assim eu sei. Sei de tudo e sei de nada, sei um pouquinho, mas quem mandou você me olhar cativo e me fazer flor feliz?

Culpou-se pelo homicídio que planejava ali, sozinha, naqueles pensamentos rendados, barrocos. Bandejaria a ele todo o seu sentir para então o menino de barba indecisa e adorável o esmagar com nãos insinceros ou com mentiras cabíveis de ostentação fraternal. Retardou-se para ver se estava mesmo a entregar-se naquela confissão suicida. Saiba você que... que... enfim, que posso mudar pelo que eu quiser. Já mudei, você percebeu, assegurou e garantiu que para melhor. Ora, por você... Tudo bem, sem mais arroubos literários inúteis. Não é assim que te provo ou convenço de qualquer coisa. Basta puxar pra tuas vistas meus olhos ao te ver. Puxa ai vai! #moçavermelha. Acabou e já colando o texto na mensagem que mandaria em 50 segundos, repensou porquês, avaliou comos, relembrou quems. Decidiu quandos.

Tinha coragem pra tanto. E como seria dali em diante? Refletiu. Amigo que é amigo resiste. Acrescentou um último, não se sinta obrigado a responder e, clicou, antes que se arrependesse, no frio ENVIAR. Consumado.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Capitulo 2 - E no princípio era assim...


Eu não precisava contar as semanas assim, como se elas fossem dedos, gargarejou a moça entre os soluços pulsantes e disfarçados. E foi-se. Desde que me apeteci dele, as coisas se tornaram assim difíceis. Já disse-lhe. E desmenti-me em sorrisos com seu não nervoso, quase um sim. E por que era tão besta? Bobo. Grande xuxu bobo.

Ai, e mais porquês para aqueles olhos castanhos nublados, gostosos, daquele sorriso farto. Me mata. Esguio, tão besta. Ri-se de tudo, num fundamentalismo patético e adorável. E resolve elogiar-me sem que assim o pareça. Pior, quase me ofende. “Faz isso pra eu dizer que as mãos delas são macias”, condena-me. Não é pecado amar. Por que ele acha isso? Diferenças. Muitas, assustadoras.

E fico com medo dessa castidade confirmada. Não gosto de inverter papéis estereotipados. Me dizem que sim. Ele que não. E as baladas me fazem esquecer de lembrar. Mas por outros fico pensando nele. Bobo. Não quero inovar histórias repetidas, de lapidação, ensinamentos, maternidade. Suas conversas profundas me dão a letargia pura e promíscua de um futuro casal. Dúvidas.

E as análises solitárias são quase teológicas. Escárnios. Acho que amo. Acho. Como lhe disse, se pudesse escolher, de fato, a ele me voltaria. Me reconforto com lembrancinhas, olhos, sorriso, jeito. Acho que amo. Acho...

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Capitulo 1 - E no princípio era assim...


Arriscou-se por meios virtuais:

- ¬ ¬

Ele, incógnita, desmedido:

- e tu já tá por aqui?

E porque era ainda cedo para ela já estar no trabalho. Então ele conhecia seus horários. Boba, não continha seus excessos, coquetismos desnecessários:

- e tu que ficou ocupado no exato momento em que eu entrei

psico

Doce, sempre inocente ele era assim:

- foi mal, nem percebi, só na defensiva né?

Dava vontade de sussurrar no ouvido dela um mantra de auto-controle, enfiou:

- ahã Cláudia, claro, desisti do ataque

bandeira perdida beibe

eh bandeira aceita

E como se esperasse algo de um fio, coisa verde, esperança em uma palavra, ironia que fosse, desiludiu-se com o:

- sinto

E aquele sinto rasgou-lhe. Era frio, embora não sentisse que fosse verdadeiro, mas era. Numa convulsão idiota soltou:

- kkkkkk

E desviou:

- ei

posso te entrevistar?

Ele, curioso:

- pra quê?

Ela explicou e largou as perguntas, que não revelo aqui, pois são demasiado técnicas, reveladoras. E no meio de uma delas, ele soltou um site como resposta. Ela perguntava. Era jornalista e precisava de declarações, discurso direto, etc... O link mandado foi o suficiente para irritá-la:

- não quero site

o meu negócio eh com vc

Depois de um errinho digitatório:

- hum

manda então

Ela continuou com o profissionalismo, fingindo-o de fonte. Não consegue manter por muito tempo, Dá uma olhada no site e humilha:

- kkkkkkkk

vcs fazem o site do ceará

#morri

Ele apenas diz:

- my lord!

Mais uma vez, ela repete-se não só naquela convulsão de letras...:

- kkkkkkkkkkkkkkk

Ele:

- vamos lá, pensemos

fizemos

Ela poderia ter ficado calada e sucumbido ao conformismo. Mas não seria ela:

- quer uma massagem pra pensar melhor?

Tudo bem. Momento ameba má que dá foras em moças apaixonadas:

- sabe alguma virtual?

Ela fica lá, olhando a janelinha e parece esquecer de tudo vendo as ações dele e se entrega, contando que está vendo:

- escreve... para... pensa... repensa... escreve... enter

legal

amanhã eu te dou

mas não me atrapalhe

Pouco mais de um minuto e meio, ela continua:

- vamos responda logo

kkkkkkkkkkkk

Nem um só comentário. O eu dela fraquejava diante das atitudes. Realmente não a queria. Não estava acostumada com isso. Talvez isso a impulsionasse. Birras. Ele responde:

- bom, eu acreditava que... blá blá blé...

Ela:

- hum...

Ele continua:

- nem cogitava trabalhar ... blá blá blé...

quê mais

?

A entrevista prossegue, com um ou outro “anjinho”... E ele vai pro lado:

- ei, o professor gostou do meu texto

hehe

Ela, querendo ignorar:

- parabéns

2 estrelinhas do PT pra vc

Mas não se contém:

- brincando amore

Ele vem com:

- :D

Ela imagina o de verdade, lindo, bom, queria ter um só pra ela:

- me manda preu ler

Ela fica feliz com o que se segue. Ele parece achá-la meio tirana, num misto de respeito e receio:

- \o/

eu não, senão tu vai acabar com ele

Espanta-se:

- valha

teh parece

pra gatinho eu dou um desconto...

Ela fecha, tem trabalho a fazer. Prioriza. Ele não é tão importante. Ainda.


terça-feira, 16 de novembro de 2010

Deleite nas rinhas caninas


Mas gostava. E nesses pedaços da vida, feito boleros, lá ia respondendo precisamente “quiçás, quiçás, quiçás...”. Deleitou-se nas rinhas caninas das idéias de ir-e-vir. Dar-se-ia melhor naquela companhia. Reflexão. Seus Sis multiplicavam-se. Retardou o crescimento do seu ego por uns instantes. Verter-se-ia em sorrisos naquela dobra de rua acidental-provocada. Tinha tomado aquela decisão de barquinho, quando se navega por plácidas correntes psíquicas. Era só se preparar para o barulho das ondas. Nauseou-se. Sentia-se bem, formigada por uma segurança quase uterina.

O bicho de pelúcia, abandonado naquela fofura piedosa, tinha necessidade de carinho. Viesse ele ou não, ficava ele lá, com a cara de satisfação estampada sempre. Tedioso. Quem produzia a precisão de afetinhos era ela. Que sempre o esquecera por travesseiros poeirentos. Criança que reproduzia ludicamente o conforto de outrora. Seu, não do ursinho. Ela deu passos pequenos. Usava salto. Cuidados. Ela tinha precisão de afetinhos. Quem produzia a necessidade de afetinhos? Ela, não o ursinho. Ousou controlar-se com sua liberdade. Podia optar por qualquer um. Ou até por nenhum. E ficaria bem por isso. Descomprometidamente bem por isso. Compromissos próprios. Podia brincar com seus próprios brinquedos. Afundar-se nas suas generalidades. Pois que era tão artífice de si, de seus próprios contextos. Vulnerabilidades insanas a assolaram.

Voltou ao quarto e agarrou o exemplar de um passado prodigiosamente esfaqueado. Ternamente prostrou-se junto a ele, encolhendo-se e parecendo querer esganá-lo ternamente. Queria tirar-lhe a vida. Frustrou-se. Invejou-o por ser inanimado e feliz. Bobo e cortez. Lembrou, esqueceu. Dormiu.



quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Perdas e Ganhos

E vem sempre os porquês. E depois passa. E é assim mesmo. E estrangula as veias. E logo elas vão se soltando. Então, estado. Despótico de Direito do Eu. Egocentrismos naturalizados. Roubam-te a vida do teu cachorro, roubam-te o celular na parada de ônibus, roubam-te o tempo, roubam-te os amores que não mais cultivavas. Assumir apenas tua parcela de culpa. Perder. Ganhar. É essa mania de guerra interna dentro de ti, dentro de tuas relações, dentro dos mundos que te explodem. Jihah interior. Não quero retomar discussões de escritoras monótonas. Não objetivo opiniões descritivas impositivas. Não tenho pormenores filosóficos complexos. De vivências estreitas e pensadas em longos prazos é que se constroem minhas linhas. Rasas, diria.


E foi pela foto achada que me motivei sobre o teclado. Lembranças sádicas, sadias. Foi naquele dia em que trouxe a pedra de brilhinhos múltiplos, irrelevantes. Até pus data, como se fosse presente. Roubei a pedra de um chão burguês de frente de hotel. Decoração elitista e brega. Mas lá estava ela, igualzinha a todas as outras. Aleatoriamente a escolhi. Um grupo de amigos passeando pela beira do mar, calçadão. Fraternalidades. Brincadeiras, pulinhos, queriam nos arrancar de todo nosso amor demonstrado. O casal perfeito, intitulavam. Grande farsa que nem sei se por aqueles dias me era verdade. As pessoas sempre se incomodam com isso. Inveja, talvez. Ou apenas pelo constrangimento da hora.


De turquesa, já pretendia misturar-me àquele mar de sustos. Tal qual a cor que me era refletida, suspirava olhares alegres de uma tristeza insuficientemente forasteira. Naquela época, nada me tinham tirado. Nada eu tinha perdido. Nada eu tinha deixado roubarem. A solidão por aqueles tempos era acompanhada. Bizarramente. Nos momentos perfeitos solidificados, uma agonia apossava-me de mim. Uma dor de cabeça misturada às náuseas ao olhá-lo. Fugia e regressava do corpo em questão de milésimos. Nunca comentei com ninguém. Mas agora lembro.


Estranho como a felicidade pode ter tais efeitos colaterais. Pensei no início que podia ser a pizza, ou o excesso de trabalho. Mas não. Independente da comida ou do feriado, do lugar ou da roupa usada. Era sempre num daqueles instantes, onde a satisfação completa demais sufocava. Não faltar nada também é aterrador. Agora paro e penso, ao me ver ali pensando. Já não era feliz com toda a segurança que tinha. O fingir que ama é tão enganador que engana até a ti próprio. Pois só pude ver hoje, o quão é mais confortável a liberdade da escolha sozinha. O compartilhamento excessivo, o não dissociar-se do outro, a entrega total... Nocivos. Suicídio do eu, simultaneamente, consciente e inconsciente.


Olho para a mesinha de futilidades que cultivo, cremes, bijus, porta-jóias, e não vejo mais a pedrinha branca. Se perdeu em algum final de faxina. Como tudo, se foi. E aquele lugar comum. Passar. Perder. É ganho. Espaço adquirido para o novo. O sapinho, que gaiatamente é cofre, me olha, sentado e teso por ser gesso. Não ponho moedinhas nele há uns meses. Acúmulo. Mal da humanidade. Libertei-me dessas coisas. E não mais me sufoco pela perfeição de já ter tudo e ter que, a partir daí, somente juntar. Os pequenos vazios agora me completam e me estimulam. Buscar.


sábado, 6 de novembro de 2010

PARTE II - Concentrou...


O apartamento era pequeno e convidativo. Reservado, blasé, com baguncinhas normais de homem. Ela sentiu falta do negror que ele imprimia e do colorido dos seus discursos. Embora no carro as amenidades tenham se transformado em discussões férreas, o silêncio postou-se desde que o motor fora desligado. Elevador, corredor, nenhuma pressa. Entraram. Senta. Estava tudo desordenadamente no lugar. Velharias de antiquário brigavam com uns designs pós-moderninhos. Talvez disputando méritos. Quem copiou de quem. Releituras e profecias. Suas idéias foram decapitadas pela voz rouca de um jazz que ela conhecia bem. A voz esvaia-se do notebook na mesinha com toalha de couro. Ela adorava couro. Esses pseudo-intelectuais... Logo, a bebida. Nada forte. Ela estava cansada, lembrou.


Me dá um pouquinho d’água anjo. Vou buscar. E ela necessitava conhecer sua cozinha. Ele virou-se e simulou um susto ao vê-la escorada na geladeira. Toma. Quer chocolate? Eu sabia que você não traria a sobremesa. Por isso comprei. Não era uma cantada fail querida, era sério. Minha hipoglicemia pede maiores doses de açúcar. Me deixaria sucumbir na cozinha de casa? A vermelhidão que aflorava o seu blush não foi pelo chocolate que ele não sugeriu pegar na boca dela. A umidade nas mãos não foi pelo agarro de supetão que ele não deu. A disritmia foi um composto pela bebida que ela não provou. Queria borbulhar. Bebeu a água.


Já que estamos aqui, vou esquentar o de comer. Não, não vou entrar no microondas, segurou para não parecer imbecil. Se é que isso era possível. A pessoa recusa a vodka, esquece a sobremesa, e ainda se chama de marmita <>. Ficou lá contemplando a barba dele que parecia crescer naquela hora. Queria que aqueles fiapinhos furassem logo seus lábios, pescoço. Bebeu mais um gole d’água. E ele lá, falando. Tentava prestar atenção, no entanto aquelas veias salientes no braço peludo faziam caminhos denotativos, aéreos, pulsavam, gritavam, chamavam-na. E tudo isso enquanto ele mexia macarrão na panela.


Ele repetiu mais de duas vezes o nome dela. Denúncia exata da falta de atenção. É, você deve estar cansada mesmo. Não,não, é que sou assim lesada, distraída. Tá com fome? Você não disse que ia comprar a comida? Não conte a ninguém gatinha, não quero ser torturado para que abra um restaurante à milanesa. Ela não conseguiu segurar o sorriso. Tá com um cheiro bom. E realmente ela estava quase dopada naquela áurea feliz. Nem sabia se por sua barriga que estava a roncar clamando por aquele <> ou se por ela própria, suplicando aquela boca. Outro gole d’água.


A água parecia não estar resfriando-a. Estigmatizou-se. Quando deu por si, a mesa posta. Meu filho, você é prendado hein? Já disse pra você não falar meus segredos tão alto princesa. As paredes têm ouvido. O vinho ficou pra depois, o negócio mais prazeroso pra ambos foi sorver aquele líquido negro e borbulhante que adoça as vivências dominicais das famílias felizes. E patrocina as copas mundiais de futebol. E o placar subiu pra ele. Nada de coca light. Era uma mensagem de amor sublime. A forma mais maravilhosa de dizer que ela não estava gorda. Era um <>...


Na sala, o <> que ele aprontara estava matando-a. Mas, não mais do que o roçar dos lábios grossos e macios sincronizados, com as mãos de mesmos adjetivos, que espremiam seu pescoço e ombros, respectivamente, aleatoriamente. E que juntos, aparceirados logo desabrigaram os botões do vestido. Relaxada fora por carícias incestuosas, ditadoras, revolucionárias.


E depois o cigarro, que ela sentiu estúpida vontade de fumar. Preferia o recosto no braço duro, firme, ao travesseiro macio, brando. E refletia. E ele a beijava compulsivamente mesmo no pós. Por que você tem olhos de gata. E ela mordeu o queixo quadrado. E recomeçaram. E podiam terminar a seguir. Mas para quê terminariam? Subverteram a ordem do amor, reproduziram os momentos imagéticos, concretizaram cenas lúcidas desenhadas. Estranharam-se, experimentaram-se, numa brincadeira só deles, venenosa, ácida, doce. E a cama virou mapa, e os braços desterritorializaram-se. E a música havia parado, mas não dentro deles. E era extra, e era festa, por que era sexta. Por um momento ela temeu que pudesse acabar. Lembrou que isso era fato e esqueceu. Continuou.

domingo, 31 de outubro de 2010

As palavras jorram...


Às vezes me pergunto como tanta dor pode caber num peito só. Feito roupas de um exército inteiro pra serem lavadas numa única bacia. Duma vez. É domingo após domingo, quando a correria semanal termina e já está prestes a começar. E vem o ócio, o refletir. Entristecer. É dor que não se satisfaz só em chover. É dor que fica palpitando sem porquês, demente, injusta, de loucuras. Perdas, vitórias. Estúpida. Eu e a dor. E eu podia abater o sofrer, antes que ele me abata primeiro. E o suicídio do meu eu se faz ideia. Já matei meu eu físico. Vou matar meu eu–lírico. Terrorismo individual, emocional, parada brusca. Roendo a unha. Rata dos meus próprios tecidos corrompidos. Perdi.

Vida tosca, de coisas-fatos sem explicar. Janelas do amanhã, desesperança. No alcançado, logo plana outro pesar. Dor. Imunda. Cheira a perfume da Avon. Podre como o capitalismo. A mão dói, a cabeça dói. O peito volta a doer. Fingindo ser um romance novelle vague, quando não passa de um trash movie dos anos oitenta. Perder anéis. Ser picada por abelhas. Emocionantemente brusco. Insólito. Pensar com o órgão certo, essa é a resposta pro sofrer menos? Mas as ordens são dadas em outras instâncias. Visceralmente. Baixos instintos. Humanos. Doces palavras sujas que teimam em pular de mim, me possuir, ressuscitando meu eu, meu devir, porviniano. Extremo. Recrutadamente num militarismo patético.

Escrevo na construção entediante de um transe epilético doído puro. Mas como droga, teima em não aliviar. Avalia a dor, que cristaliza, consome. Vai explodir. Sou fraca demais para descrevê-la. Esses devaneios que o teclado não alcança, num imensurismo fatídico, dão náuseas. Livrar-me-hei delas no digitar. Não saem, são noda de caju. Amputar as dores com facas de xingamentos é inútil. Feito estrelas, sentimentozinhos, se rematerializam em abstrações que são. E mesmo nesse estado insano, de tocar teclas, com dedos desesperados, o silêncio, só cortado pelo forró brega antigo ao longe, as extremidades do sofrimento não são tolhidas, moldadas, podadas. Frutos. Desconhecer. Ludicamente, a busca pela ritmia textual equivalente a perfeição sinfônica é o que há pra hoje. Linguagem equivalente ao que os ouvidos captam ao fundo. Batidas feias. Nem os ritos pontuais seriam suficientes. E as palavras jorram. Sinto pena delas. Reflexo. Purificação.

sábado, 30 de outubro de 2010

PARTE I - Foi


Concentrou-se na janelinha que piscava. Berrava. Lá vinha ele outra vez. O pequeno círculo verde não era sinônimo de outras disponibilidades. Responder monosilábicamente sempre funcionava. Tentou. Nada. Tenho de ir agora. Digitou abreviadamente. Dois pontos, asterisco. Será que ele merecia? Titubeou. Levou em conta a banalização de tais expressões afetivas pontualísticas e afundou o indicador no <>. Arrematou com um tchau. Oh, como odiava os emoticons automáticos. Enfim.


Rumou com aquela extensão de seu braço à opção sair. Subitamente mais uma janelinha azul céu triste ascendeu. Sentiu mais vibrações tremerem suas carnes do que quando soube da possibilidade de se mudar pra longe. Quase viajou mesmo naquela hora, porém sem sequer levantar um dedo. Esperaria. A ansiedade não podia transforma-lhe num desses exemplares <<teens>> de aflição disfarçada de atitude. O pior aconteceu. Pelo menos foi o que avaliou na hora.


Viu vagarosamente – feito filme brega em slow-motion – crescer o retângulo fulgurante. No centro dele, um cheguei boa noite. Demorou um pouquinho. E foi lá procurar as letras de uma resposta descomprometida, inocentinha. Boa, soltou. Como a senhorita está? já pousou os olhos sobre o céu pretão que tem um buraco lindo e branco que reluz?. Ele pegara pesado. Pensou, e no pensamento mesmo, deixou escapulir um desembuchado palavrão de cinco letras. Não poderia ignorar. Foi lá e meteu na caixinha um puro e simples não. E prosseguiu. É foda como nesses nossos tempos a gente fica sabendo dessas coisas belas, naturais, dessa forma. Pronto, calculou. Pois devia preencher esses seus olhinhos lindos com aquela bolinha redonda, gostosa de se ver. Por que ele era assim hein? Tá, vamos lá, e preparou os dedos ágeis. Pois é, pouco tempo, vida cheia, trabalho até a noite. E quando a gente sai, só dá tempo de ver o fulgor do letreiro do ônibus. O jeito é acenar e rezar prele parar. Foi o máximo que conseguiu.


Então esse tumulto diário precisa de descanso beibe. Posso te relaxar com minhas metáforas bestas hoje à noite? Tudo bem, era tudo que ela queria, todavia aceitar assim de primeira... Nãaao. Ok, ok, pendeu o que seria em outra oportunidade um cotoco sobre o <> e o dedo mínimo sobre o <>. E ficou brincando num balanço automático. Casou essas letras em oito pares, achou digno e confirmou. Haveria tempo pra pensar. Ai, como odiava essa instantaneidade aparentada. É, tudo isso me deixa cansada. Arrependeu-se. Além das metáforas, posso lhe oferecer metonímias, massagens, ironias, e um jantar comprado que vou fingir que fui eu que fiz. Que tal? Era realmente irrecusável. Tenho que ver, ponderou. Só te lembro que eu não tenho diabetes, e a sobremesa é por sua conta. Vai trazer o quê? Tá bom xuxu, você me venceu pelo cansaço. Pelo cansaço mesmo. Te busco às 21h na sua casa docinho. E veio logo aquele está <>. Manipulador como sempre.


O relógio caminhava rapidamente e só lhe presenteou com indignos 83 minutos. Que horror. Resignou-se ao banho curtíssimo de 25 minutos. Unhas, maquiagem, cabelo, sapatos, ok. A roupa era pra manhã. Perfeito. Um vestidinho oriental. Tinha que latinizá-lo. Deu acessórios rubros. Estava pronta. Tinha ainda 12 minutos. Abriu o celular pra confirmar a hora. Nem deu tempo. O número jazia lá. E a música que reservara pra ele papocou sonoramente. Jantou sua ansiedade e deixou tocar mais um pouco. Quando a música e a forte vontade de roer a unha que acabara de pintar lhe consumiam fortemente, aceitou a chamada. Ensaiou um hey boy , já tô indo. E foi.

domingo, 17 de outubro de 2010

Pintou pra morder...


Pintou pra morder. Vermelho, fogo, vampiresco, almódovariano. Afunilou os olhos num delineamento espesso. Gueixou-se. Plantou flores no cabelo e nas pontas das orelhas. Escarlates também. Fitou-se num queixume hedonista. Virginiana, à espreita de tudo, de si. Achou coerência no respingar múltiplo da fragrância verdinha. Aplicou um último repasse no reflexo. Desligou o teledrama que ressoava falso-piegas na tela tediosa abandonada há duas horas. Rádio-novela. Vez ou outra mirava as cenas de um teatro hiperbólico e banal. Bocejava. Fugiu calmamente, sem esquecer-se da bolsa. Rubra. E foi-se sem rumo. Tinha encontro marcado. Há muito tempo.

Desmarcara com as amigas, remarcara com o caminho. Escolheu o lugar. Não sabia para onde ir. Escolheu o que sabia. Não sabia o lugar. Revirou-se em pensamentos. Tinha tempo. Quarenta minutos até que o ônibus chegasse ao ponto final. Decidira. Juntou seus encargos emocionais e saltou na parada devida. A brisa friinha da noite pintou na sua boca um sorriso. O mendigo pidão borrou logo em seguida. Foi feito chuva que dissolve. Feito eno na azia. Seguiu. O primeiro Martini lavou a tristeza por outrem. Dançar iria, até borbulhar. Esperava ser colhida.
A noite não era acolhedora para as moças coragem sozinhas. Escolheu. Olhares trocados, gestos sutis reveladores de boca e mãos, esquinas. O banheiro era a jogada final. Iria retocar suas pinturas em cores ardentes. Voltou pra perto do palquinho. Xeque -mate. Engenheiro, surfista nas horas vagas, ou vice-versa, papo de ácido. Novamente o banheiro lhe ajudaria. Sabia que não podia abraçar o excesso. Pena. Pegou um táxi. Espremeu-se e pediu para descer. O calçadão havia lhe assoviado, pedinte. Lá estava ele. Embora, ele próprio não soubesse. Ela tinha que pensar em alguma forma de puxar conversa. Sentou no banco duro de pedra. Ele parou encarando-a. Sua beleza é hibrida e completa. Soltou. Senta aqui e me conta o porquê. Ela completou rápida. E foram oitenta minutos ali, cento e trinta no barzinho. A carona até em casa, o convite pra entrar.

Ele era especial, não era pressas coisas. Não assim. Ele pediu o telefone. O aparelho metálico-amarelo gritou. É, ela queria, o número estava certo. Tá, ela o deixou entrar. O moço bonito tomou a cozinha pra si. Preparou café e ficaram depois ali, em brincadeiras árabes, de leituras de borras. Você precisa ir. Ela expulsou sutilmente. Você quer que eu precise? Ele pressionou de forma tão amável, semeadora de dúvidas, acolhida. Um último beijo. Era só um desconhecido que já havia lhe passado informações semi-pessoais. Deixou-o no carro. Selou.
No outro dia o cinema na casa dele. Transportador. Beijos e mensagens nos dias seguintes obrigaram-na a pensar no conteúdo do sentimento. Não queria cultivar. Embora sementes plantadas, podia podar raízes. Limites. Falaria tudo pra ele. Da sua confusão do inquerer. Do querer que poderia não ter futuros. Estava envolvida demais pra reflexionar. Estantes, instantes, vertentes. Foi ler. Ligou pra ele. Esperou seculares vinte minutos. Era o momento. Chicoteou sua puritanisse breguinha. Antes tivesse sido antes. Depois repetiu.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Capital do boi


É buscar, ê boi. É levar, ê boi. Espancar de carinhos as peles alvas do teu sofrimento, é fazer agressão ao outro lado do veludo de uma manta que não te cobre. Espantos. Desalento. A cantiga da noite faz libertar os dizeres do sistema. E eles ficam ai, soltos, voando mambembes. Não era para ser assim. Mas o querem. Poucos galhinhos irão se ramificar, dominando. Ê boi. Mas é na pontinha dos múltiplos que as flores desdobram-se de si para forjar beleza intensa. Abóia. Não é Caim. Isso por si só já não alimenta. Vai e volta. ê boi, sua mulher. Tão usada pelas bocas maldosas que a atribuem às deficiências humanas, escassez de belezas. Padrões.

Capital. Sem fé se chega lá. A crença tá certa, mas na medida errada. Os caminhos por onde andei são só as mesmas sandálias que agora acompanham meus pés sem emitir uma só palavra. Aprender de novo o que já foi até analisado, revisto. Aprender de outro jeito. Falta isso.

Relegar vergonha é sua sorte e prazer. Verdadeiras epífises cravadas no cordão umbilical do teu cerne. Explorador. Manipula-te a ti, nós, com a informação, que demasiada, alucina, verte. Instantes esquizofrênicos de lucidez dão ao teu gado momentos históricos de beleza estupefata. Quase onírica. Mas como sonhos, passam. Dá-se a natureza humana a tão encaixada desculpa. E voltas, insensato de destruição. Ê boi. Podia passar, sem contarmos os carneirinhos. Mesmo o mago-mor de invenções suicidas, recrimina a ti. Por pena ou saber de estados. Estado. Virgulas podiam cessar-te, por reconstruções mais metafóricas. Utopia. Que a continuem imaginando. É a esperança derradeira. Que sinos e chocalhos ressoem. Ê boi.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Tentações policromáticas de percepção. Não, não estava drogada...


Por que não se lembrou quando tinha sentido a última flor que olhara. Na passagem por algum terreno baldio? Tinha muitas flores por si. Era Flor afinal. No cabelo, no vestido, na sandália. Mas esqueceu a última vez em que tocara a maciez de uma verdadeira flor. Pouco tempo. Atenção dispensada a assuntos mais importantes. Tudo era mais importante. Não pintava mais flores. Não bordava mais flores. Não tecia mais flores. Pedras-caminho, estradas de terra que teimavam em empoeirar seus olhos cansados, chorosos. Menina.


Deixou o lilás de lado, pelo vermelho ardente. Essas manias de cores que perpassam a vida. Cromomaníaca. Monocromática. Fluidez, auxilio. Passou a perceber por melhor em que condições cromáticas os lugares e as pessoas iam levando. Notou. Ateou fogo na visão já turva das interpretações errôneas. Buscou se esquivar dos vieses políticos das cores. Flor, a bichinha tava tão cismada com essas peripécias da refração, que achou de en-di-rei-tar a santa da entrada. Manto azul, que coisa. Fosse assim, danada da esquerda, perderiam céus e mares, restando-lhe apenas o sangue, o pecado, o inferno. Antes isso que a calma passiva_conformista. Pensou. Passados tais devaneios estupefatos, foi tratar de mais associações bestiais. Menina.

Os elementos vitais - fogo, terra, água e mar – vistos de filmes, extrapolados, miticamente, estranhos, acabaram por parecer-lhe acolhedores. Não ia buscar filosofias do Seisho no Ie ou o feng shui. Era sistemática demais pra isso. Logo se cansaria. Embora o orientalismo já muito na moda desde algumas décadas a atraísse. Aprendeu a repetir uns mantrinhas. Enjoou. Era legal até que as pessoas começaram a olhar estranho demais pra ela no ônibus. Nada de espirais do silêncio. Já havia superado isso. Prometidas mudanças intempestivas a si própria, bailou com a meditação indiana. Até apaziguar seus foguetes nordestinos de personalidade dos trópicos. Desculpa.


Retratou-se com seu ego, na medida em que destruía a intolerância ao apego da pequenez. Nada de plásticos, diria. Um ou outro apenas. Tinha a desculpa da lógica de mercado na qual estava inserida. Tadinha. Concentrar-se-ia nas coisas miúdas, mas não nas do mundo, espúrio, infeliz, sim nos laços naturais, encolhidos pela crise do capital. Estranhou. Negócio de naturalismos. Tentou até ser vegetariana. Conseguiu. Durante uma semana inteira. Mastigou aqueles vegetais sem gosto, gosto de mato. Ow sanduichezinho horroroso aquele de molho de cenoura. Retorcia-se ao lembrar. As delícias da carne nunca lhe atraíram tanto como naquele rodízio de carne, na festa de aniversário do namorado. Antes, não provava maminhas, alcatras, bifões por pura despretensão. Agora, a lembrança da torta de beterraba a fazia salivar com um convite prum churrasco. Ode ao carvão.


Refletir é quebrar. Assim como quando a luz monocromática extirpa uma cor na refração, o pensamento se desfaz na variedade de idéias num plano. A luminosidade vai tornar a visão diferente. Seja em conceitos ou em tonalidades. Flor sabia disso agora. Partiria dali em diante com outros mantras e concepções mais eficazes na ponta da língua. Bateria na porta certa. Varreria caminhos com olhares buscadores de flores. E jardinaria os pedaços de sua vida carcomidos por ervas mais daninhas que em contos de fadas. Não, não estava drogada. Um pena. Era fraca demais para as ervas.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

E procurou até achar o que já tinha


E foi vestida da carcaça trepida de alegria. Não parecia, mas era mais fina que papel vegetal. Não tão translúcida, mas mais amanteigada. Preenchia-se com os vácuos de tristeza em ondas milimétricas que lhe tocavam o rosto ternamente. A dor do frio tornava o pé esquerdo travesso. Cessou. A música do ônibus fazia da paisagem, que corria vista pela janela suja, mera ilustração contemporânea de cinema trash. Figurativismo. Semi parnasianismo de deleites sofridos e estranhos. Bilac poderia descrever aquilo mesmo morto. Chico não estava mais aqui para isso. E ela não tinha poderes de escrever. Fato.

Poderia até psicografar o que o vento dizia, mas a zuada do motor do ônibus não estava deixando. E por cima de tudo, não tinha caneta nem vontade. Ninguém fica escrevendo besteiras, sentimentos, sopros de vento na Av. João Pessoa. Ainda se fosse um nome menos opressor vá lá. Tinha esquecido o livro democrático conceitual. Não ia se concentrar mesmo, com tantos barulhinhos que queriam lhe dizer. Sonhos, futuros, verdades.

Os saltos das rodas gigantes lhe traziam muitas lembranças. Sempre desejou companheirismos no transporte coletivo. Teve demais por alguns anos. Descobriu que se desejasse muito uma coisa, teria. Em excesso até. Enjoativamente. Por quê? Perguntou-se. Desejou muito, teve muito. Não há contradição nisso. Gostava de excessos. O mesmo lugar de onde vinha a concretização dos desejos estava lhe penalizando. Os egos errantes que não sabem crescer comedidamente recebem castigos. Todos garotos buliçosos. Breguices.

Saltou na parada devida. Esquina escura, tranquila pela lua cheia. Saudades dela, nunca mais havia a visto. Redondinha, faceira. Eram bobas as duas, a iluminar mentes fúteis, caminhos errados, mentiras consoladoras. E foi por lá, ultrapassando caminhões e mobiletes. As crianças da sua rua brincavam histéricas um futebol inventado. Sentiu ternura por elas. Apesar de não gostar de suas mães fofoqueiras, elas não tinham culpa. Fez figura de linguagem com os cabelos pras três mulheres sentadas no tronco tosco. Foi comprar um pastel na vizinha.

A flor-luar: por repetições contraditórias de amores


Nas profundezas Flor mergulhou a buscar a flor. A linda flor azul. Seu perfume embriagante, delicadamente essencial, destruía as vontades do ser que a inalava.

***

No centro da floresta estava a rocha. Uma áurea magnífica a circundava. Ia aumentando a proximidade e o esplendor que dela emanavam. A magia a possuiu. Os olhos queimavam num brilho refrescante e tentador. A atração se tornou mais forte. Magnética. Magnetismo dourado-incolor. Puxou. Lutar contra era impossível. Haveria dúvida de resistência? O desejo era surpreendente, mais do que qualquer outro.

Ouviu sons. Quase cantos. Era como se penetrassem nela. Emocionavam. Não sentia o materialismo. Estava em um plano diferente. Se é que poderia rotular assim. As luzes prismáticas surgiam. Como sentiu saudades delas! Brincavam com Flor.

A três passos estava a rocha. Fria, amorfa, melancólica. E ao mesmo tempo com uma vitalidade fulgural, sentiu o amor. Emoção, prazer, êxtase, o perfume. Estava muito perto.

Ajoelhou-se. Retirou a pedra do sacro-lugar. E lá estava ela. Sob a pedra, a linda flor. Azul. Com seus vários lábios. Flor a pediu, mas não a podia ter. A ambicionou. Mas não era dela. Não era de ninguém. Não podia ser propriedade.

Cumpriiu sua tarefa. Hipnotizada pela estonteante beleza a colocou no chão. No sacro-lugar. Ela deitou junto a sua mãe e adormeceu. Flor a protegeu com a rocha. Estará lá para outra eternidade. Até que alguém a solicite. E como sempre, ela generosamente, irá ceder uma de suas pétalas-poder.

Não conseguiu crer. Tinha nas mãos a pétala. Pura. Macia como uma pétala. Vívida em sua palma. Temeu amassá-la.

Acariciou-a. Levantou-se e seguiu deixando o inebriante cenário pra trás. Mas não sem fotografá-lo uma última vez, com pupilas que pareciam mentirosas. Voltou à trilha. Guardou o tesouro recém-apanhado no estojo cor-de-marfim-sujo. Cuidadosamente fechou o encaixe de latão, trabalhado com diamante e grafite. Reluzia belo. Todo feito de palha, com espirros de sal e cacos de vidro combinados num sistemático mosaico, que em toda sua extensão promovia certo torpor pelas figuras que formava. Flores, bananas, relógios, baralhos, bocas entrelaçadas, pernas, abraços, fogo, espuma de um mar cristalino e lixo em montanhas de um paraíso-oásis. Tudo minuciosamente pequenino. Detalhes que encantavam pelo esforço empregado em sua construção.

Guardado o estojo na bolsa de tricô vermelho, Flor se sentou junto a um rio. Ele corria manso. Enternecia. Ela lhe arrancou um pedaço e molhou o rosto. Sentiu vontade de nadar por ele. Mas lembrou que não sabia nadar. Nunca aprendera. Foi pra água mesmo assim. Não iria se afogar. Não no rio. Naquele momento já estava se afogando na própria felicidade. A água tocava seu corpo com tensão corrente. Agradavelmente como em leves abraços.

Aproveitou o momento.

Saiu do rio molhada por seus afagos. Vestiu-se sem enxugar-se. Deitou-se no mato, junto a algumas flores. Delas sentiu o perfume que impregnava. As roupas secaram. Era como se sentisse cada gota evaporar. Lentamente. O aroma floral ainda a perturbava.

Adormeceu.

Sem noção de tempo, acordou. O sol se foi e junto com ele a água da roupa. Agora avistava a lua. Em um cordial sorriso. Tudo estava escuro. O que se podia enxergar era apenas aquilo que o luar deixava. Sentiu que tinha que partir. Apanhou a bolsa e se pôs a andar. O rio a acompanhou. Arrepios. Sentiu frio. A coruja voou sobre ela e conseguiu assustar. Lembrou de São Bernardo. De uma árvore a olhava. Profundamente. Como se perguntasse...

Voltou a andar, pois havia parado para contemplar a ave da noite. Bela e sombria. Poderia andar a noite inteira. Estava disposta. O silêncio era reflexivo. Fazia sentir. Sentia sua respiração. O cheiro do mato. O coração. O que estou fazendo aqui? Perguntou-se. Parou de pensar. Não teria medo. E realmente não estava com medo. Tinha seus motivos. Faltava pouco. Não poderia mais agüentar. Tinha de ser forte para ir até o fim.

Chegou a estrada. Sabia que não passaria nenhum carro-carona. Viu uma luz ao longe. Como queria que fosse a luz no fim do seu túnel. Depois de conseguir chegar até a flor e arrancar um de seus lábios, nada mais importaria. Era uma moto. Branca. O moço a viu e parou. Talvez atônito pela hora, indagou-a sobre isso. Flor não queria responder a sua pergunta. Nem a todas as outras. Naquele momento falar era desnecessário. Finalmente, ele tirou o capacete.

Medo. Quantos olhos viu ali? Eram dois, confirmou. Mas, multiplicadores, de um castanho vulcânico. Perceptíveis sob a luz negra. Era ele, mesmo sem saber. Era. Os fatos sucederam como tinham lhe informado. Encontrou. Como estava escrito. O destino não existia. Pensou.

Retirou o estojo. E dele a pétala com formato de gota. Ele a olhou pasmado. Tirou da jaqueta de couro sintético, o mesmo estojo e a mesma gota.

Juntas, nas mãos, unidas ali sob a lua, formavam a concepção que conheciam desde criança como coração. E ele era azul. Ainda mais azul pelo luar, que travesso transformava a cena em algo onírico. Ambos sabiam que a busca findara. Haviam encontrado. Haviam se encontrado. Dois olhares, um sentimento. Ele desceu da moto e a abraçou. Flor deixou-se abraçar. Ambos detinham certezas, iguais e diferentes.

Subiram e ele ligou o veículo. Seguiram estrada à frente. Alguns ruídos. A moto estancou. Quase sem palavras desde o primeiro olhar, entenderam. Era incrível como a compreensão não precisava de linguagens verbais. Universalidades. Como quando falava com as samambaias da avó e elas respondiam manipuladas pelas brisas-vontades.

A gasolina havia acabado. Intencionalmente ou não. Abandonaram o veículo. Mãos dadas. Segurança. Ele parou. Ela também. Olhares fixamente conectados. O beijo aconteceu na entrega. Era profundo e suave. Em abraços apertados. Lembrou do rio. Libertador. Se amavam, sabiam.

Aqueles beijos esgotaram suas poucas forças. Flor o puxou para fora da estrada. Entraram mato adentro. Ela recostou-se numa árvore. Ele também. Deitou no ombro dele. E adormeceu. Por instantes-horas. Ele sabia o que tinha que fazer. A mata selaria as bodas. Fizeram das árvores lar por três dias. Flor estava cada vez mais fraca. Apesar de ter extrema e compulsiva aversão a idéia, ele tinha a obrigação. Chegara a hora. A doença consumia Flor. E ela queria acabar com aquele sofrimento. Ele deveria fazer o que tinha de ser feito. Foi até a árvore que lhe indicaram. Cavou. Lá estava o punhal. Tudo passou por seus olhos, à medida que ia se aproximando dela. Mais do que a si, amava Flor. Virou o rosto, e plantou o objeto cortante no peito da pequena. Rasgou o bastante para retirar o coração azul. Trêmulo. Não podia mais. Sentia tanta dor e quase morreu ao experimentar o último suspiro da Flor que não mais o acompanharia. Um murmúrio inocente, tudo acabara. Ela ainda viu ali nos olhos dele o rio que corria. Um grito terrível. O bem para o mal. A crueldade libertadora. Como se arrependera. Mas era o que tinha de ser feito. Flor podia vê-lo. Melancólico. Coração na mão. Iria enterrar como previsto. No centro da Terra. E de lá iria nascer a flor. Azul. Todavia, para isso ele teria que regar o solo, com seu próprio sangue. Cortou os pulsos e regou o solo. Pintou o chão de terra com o líquido vermelho, esparramou. Sumiram as forças. No fim, deitou junto à arte que praticara-fizera e adormeceu. Para sempre... Pedra viraria.

Encontraram-se para a eternidade. Para eles ela passara a ser nada. Somente conceito dos Alinhar ao centro mortais, não-possuidores de si. E eles já não precisavam de conceitos.