segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Dos ditames do amor próprio

Flor, nossa querida flor, resolveu ligar pra ele. Marcaram um encontro.

- Bom, pra começo de conversa, você é a pessoa mais instável que conheço. Nem se seu signo fosse gêmeos, eu poderia entender tantas dúvidas. Pessoas crescidas tem dúvidas, mas não se deixam mover por elas. A gente enfrenta, a gente tem coragem e vai à luta, sem fazer uma série de testes e comparações, nas quais estão em jogo emoções de outras pessoas. Isso é cruel. Isso é muito cruel. Sei que você tem uma dor, eu sei. Uma dor muito grande, mas a vida também é feita de dores. Todos nós temos dores, mas também temos o futuro. A escolha é sua. É sua dor quem irá te mover?

Os olhos dele a olhavam com silêncio. Flor continuou.

- Até essa inércia em admitir o que sente. Não pra mim, mas para você mesmo. Tenta, pow! Juro, era insuportavelmente chato ter momentos efusivos, megamente felizes com você, sentir que estava tudo bem, tudo tão bem, e em alguns instantes ouvir suspiros que eu sei que te queimavam por dentro. Sim, esta é minha teoria sobre suspiros. Esse lance de ter tudo dentro e querer colocar pra fora de alguma forma, porque está incomodando. Ai, você suspirava para tentar refrescar o coração, a alma ou sei lá o quê. Mas não funciona, cara. Não funciona.

- Flor, eu...

- Eu não terminei... E não, nunca mais compare gentes e seus predicados com celulares. Pessoas não são celulares com melhores adjetivos. Mesmo dizendo antes que é uma metáfora absurda, isso não anula o fato de ser absurdamente idiota. Me parece ser frustrante não saber o que se quer, não ter segurança e não ter as rédeas do próprio querer. Se você quer, faça, tente, mas não machuque quem está ao seu lado. Aliás, pense mais antes de fazer. Eu não pedi para entrar na sua vida, você não pode blefar comigo, dizendo que me ama e que quer construir sonhos ao meu lado, me levar pra viajar e mesmo assim conversar sobre ir para Paris com outra mulher, que te "acessa mais do que eu". Não, não pode. Vivemos numa sociedade monogâmica, a menos que não seja acertado assim. Pois é, as pessoas se envolvem. Eu não te amo... Tá, eu posso tá começando a te amar e eu te queria comigo. Eu estava ali, tentei. Você é tão-tão instável. Como eu podia dizer sim, me diz? Como eu podia dizer sim, vamos morar juntos, pra alguém que terminou comigo duas vezes para ir "testar" outros "celulares".

- Olha, sobre isso dos celulares, eu te disse que era uma comparação terrível, mas quis ser didático, eu me abri com você...


- Não importa. Estou me abrindo com você agora. Estou jogando fora toda a capa de fortaleza com a qual me cobri até hoje. Eu sou única, cara. Única. Eu mereço mais que isso, muito mais. Quando eu digo que sei das qualidades que tenho, é porque lutei para enxergá-las, é porque sofri, fui rejeitada, traída, humilhada, mas eu me levantei e consegui recuperar minha vida. Todas as vezes. Eu tomei conta dela. É isso que eu faço e por isso eu fico bem.  Todas as brincadeiras sobre o que digo de mim, sobre o que você brinca ser "meu ego inflado" são verdade, são o que acredito. Sabe por quê? Porque eu me amo, porque eu confio em mim. Não foi fácil, mas eu me reestruturei todas as vezes e não vou cair de novo. Aqui está o meu lindo sorriso. É um sorriso de eu mereço ser feliz, meu chapa. Me amo mesmo. E é por isso que eu realmente me pergunto se quero voltar com você. O meu coração diz que você é o cara mais legal, divertido, alto, bonito, de sorriso lindo (seja meio-sorriso, seja de lado, de frente, inteiro)... Você é o mais-mais encantador, esforçado, criativo, trabalhador, bom de cama que já conheci. Mas você não luta por mim, você não me passa segurança. Quem quer, faz tudo isso. Então, eu também não quero estar com você. Eu quero alguém que me coloque como prioridade. Sim, dói dizer isso, mas é o que sinto. Se é para escolher entre mim e você, então já sabe. 


terça-feira, 23 de abril de 2013

[Amor em Tempos de Redes Sociais] Capítulo 8 - Missiva de quem quis liberdade




É uma sensação de impotência tão grande, tão cheia. Você perde aquela vida. Perde aquela vida inteira. Flor imaginava até onde iria aquilo. Até o momento em que a vida pedisse coragem o bastante para pedir demissão do amor. Sair dali. Daquele lugar comum, onde os corações estavam frios, nem mesmo batiam um pelo outro. Eram só músculos cumprindo o seu papel.

Lembrou de Leminski. “Isso de a gente querer ser exatamente o que a gente é, ainda vai nos levar além”. Tão frágil essa vida de dois. Que se acaba quando você menos acorda e vê que não é sonho e quer voltar pro sonho. Quando seu olho quer brilhar e sua pele não mais arrepia. Aquele sorriso vira tédio, aquela fadiga vira regra. E o tesão acaba. Decidiram consumar as diferenças e seguir seus caminhos incertos, mas o desapego não os encontrou e as mensagens choviam, os dedos tremiam, as chamadas apitavam, o coração desconcertava-se. Ela pôs fim.  Papel. Poderia escrever uma carta, mas os tempos e o amor eram outros. Abriu o e-mail.

Você me amou - se é que amou - pelo que eu era, pelo meu jeito, pela minha forma de pensar, pelas minhas atitudes, pelo que fiz por você, pelo meu carinho. Por tudo isso você me amou. Então porque quis me mudar? Realmente, me moldando ao seu ideali, você não me amaria. E iria acontecer o que sempre aconteceu. Você iria cansar... Cansar e buscar outra, pra depois voltar pra mim, porque eu era a sua segurança. Você nunca foi meu. E nunca iria ser. Sua alma é livre, mas sua mente exige prender quem vive ao seu lado. Porque o modelo que você tem, é o modelo que você segue. Você crê que as pessoas sejam como você, que ajam como você. Mas não! As pessoas são diferentes. Eu sou diferente. Eu também sou livre. E você quis me podar, me reprimir, me oprimir, me modelar... Quem ama, ama pelo que x outrx é. E foi por isso que você me amou. Se você busca modelos perfeitos, sinto lhe decepcionar, mas nunca vai achar. Eles não existem. O que existe é o amor. E você encontrou. E jogou fora. Desrespeitou, mentiu, traiu.

Deveria ter vergonha por causar tanto sofrimento a tanta gente. E gente que te perdoou e te aceitou/te amou, mesmo assim. Mesmo depois de tudo. E o que você fez? Rejeitou... Não aceitou por coisas que sequer são defeitos, são só jeito - que você não aceita, por simples dificuldade de entender/aceitar as diferenças....

Espero que seja feliz. Espero também que sua mente se abra, e seu coração entenda. Eu te amo, como nunca amei antes, mas, entenda bem, eu nunca vou aceitar não ser livre. Desculpe. Espero que encontre a felicidade, depois de entender que a liberdade é necessária. Não existe amor, se te sufocam. Ele murcha, ele morre...

E chorou, enxugou, enviou... Desfecho. Iria aguardar a resposta. Se viesse. :T

quinta-feira, 11 de abril de 2013

[Valente] Eu, tu, ela, nós...


Que princesa você quer ser? A mais leve, graciosa, bela, sutil... Nops. “Não quero acabar com minha vida. Quero a liberdade!”. Esta é Merida. Uma anti-princesa. Sim, porque a graça é valentia que voa em cabelos ruivos, caracóis. Cavalga e domina a flecha melhor do que qualquer príncipe. Brenda Chapman e Mark Andrews, diretores do longa Valente, dão a animação o tom de aventura, mas se firmarmos os olhos no enredo, o papel da mulher é questionado. Merida é questionamento.

“Lembra-te de sorrir!”, assevera a mãe de Merida. Imposta pelo eterno feminino, a delicada felicidade por meio do sorriso deve servir a todas nós, mulheres, para expressarmos nossa beleza e simpatia. Misses, please! A questão é: que valores nos são passados e estamos passando para meninas/jovens/mulheres sobre o ser mulher.

Valente é um belo exemplo de “exceção”. E as aspas cabem somente ao cinema, já que mulheres valentes, livres, emancipadas, transbordam aos montes pelas calçadas e caminhos deste Brasilzão. “Merida, você é uma princesa e deve agir como tal”. Nascer, crescer, casar, ter filhos... Bom, Merida aprendeu com as flechas a ver além.

O casamento. Ora! É a certeza da vida de toda mulher, né, não? Merida o nega, veementemente. “É para isso que tu tens se preparado a vida toda!”. E nós? Também somos? Com nossas bonecas, fogões de plástico, mamadeiras e casinhas – isso, se nossos pais tem acesso ao consumo (isso, se temos pais)... Ah, o feminino. A identidade de gênero,

Tão velha a Idade Média e tão presente em cotidianos femininos de opressão naturalizada. Porque não podemos achar – com facilidade - companheiros que não cultivem práticas machistas, como reprimir, controlar, dizer o que temos ou que não temos que fazer. “Que nós sejamos livres para seguir nossa própria história, seguindo nossos corações e encontrando o amor no nosso próprio tempo.” Merida se faz senhora do seu destino, do alto do alazão, escolhe reverter o que fora escrito pra ela. E deixa a dica... “Nosso destino vive dentro de nós”. Libertemo-lo...

:::Valente [Brave]
Gênero: animação, comédia
Duração: 1h40min
Ano: 2012

segunda-feira, 18 de março de 2013

Sim, eu posso viver sem você...



Sim, eu posso viver sem você... Pois é. Eu sei, estamos juntos e felizes e não teria porque eu dizer que posso viver sem você. Isso pra muita gente pode parecer uma negação do nosso nós. Mas, não. Não é uma negação de você, não é afirmação de desamor. Só deu vontade de dizer e pronto. Eu posso sim viver sem você. E é por isso que é mais mágico. Porque mesmo que não estejamos mais juntos, podemos viver sim, um sem x outrx. É só uma questão de admitir, de ser sincerx. A dor de fim é um PQP, mas passa. E admitir que eu posso viver sem você é entender que podemos ser nós sem ser um, sem no anularmos como seres autônomos. É compreender que podemos aceitar a felicidade dx outrx longe, com outrx, que não seja a gente. E isso é mais amor, é amor maior. Essa “história de eu não posso viver sem você” não passa de mimimi. É somente a ausência de coragem de se aceitar só, de se desadaptar, de afirmar pra si mesmx que se pode viver como e com quem – ou sem quem – a gente quiser.

Eu posso viver sem você, porque estou tão bem com você, e isso não me sufoca por pensar que não posso viver sem você. Estava pensando e achei que eu tenho um pouco de coragem por pensar assim. Coragem de poder viver sem a pessoa que mais amo na vida. Coragem de poder viver sem o olhar mais profundo que mergulho aos gemidos. Coragem de poder viver sem o cuidado diário mais terno que um alguém pode dar. É. A vida pede coragem, como diria Cabral de Melo Neto. E o melhor, eu não preciso pensar em viver sem você. Porque eu te tenho aqui e agora. E é isso que importa. Se passar, você vai ser as minhas melhores lembranças. Se não passar, você ainda vai ser minhas melhores lembranças, a cada dia produzindo mais bons momentos pra serem lembrados. Seu amor me faz bem. ^^

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Minha regularidade é a loucura



Felicidade. É uma palavrinha grande e nojenta. Cobiçadíssima! Daí a facilidade com que escorrega feito dinheiro em rua com brisa.

Flor estava ali, perdendo-se em pensamentos que não a levariam a nada, a não ser... Claro! Pensando como ser feliz, ela estava perdendo tempo presente, a hora de ser feliz.

“Minha loucura é a regularidade”, pensou. A minha regularidade, o meu padrão. Achar alguém que aceitasse sua loucura. Leu acima de si mesma, numa ideia lampejada, fatal. Queria florir-se e ser amada por desvairar-se. Em plena terça-feira de um carnaval vazio, eis que o tarot virtual lhe apresentava a carta que sempre sempre a assoprava. "As pessoas falam porque estão viciadas em certezas e seguranças", apregoava. Sim. O desconhecido, que era um encanto, sussurrou ao ouvido. Sentiu sob uns pés empoeirados de casa, um abismo, no qual quis pular, afundar, sem ter ar, flutuar. "Ponha sua vida em movimento", ordenava a leitura da carta. Que carta! Uma mensagem limpa, clara e louca. A alegria era a vigília da loucura. Abriu o bloquinho onde escrevia momentos, ali, perto da máquina interligada. Pontuou.

Cor - laranja
Encanto - ele...

E parou ali. Por que tinha um coração assim pregador? Por quê? Pensou em ligar. Pensou em pensar. Descansou. Foi deitar e teve ele de encanto. Satisfeita, voltou para a rede. Aquela rede com milhares, e sem nenhum. “Ser feliz até onde der”, leu numa imagem boba, que logo desceu céu abaixo. Então era até acolá. Amanhã acordaria mais louca, teve certeza. Só restava esperar.